sexta-feira, 13 de julho de 2012

"Educador(a), que form[a]ção é essa?"

De 17 a 21 de setembro de 2012

Faculdade de Educação - Unicamp


A Semana da Educação é evento anual, organizado pelos estudantes da Faculdade de Educação da Unicamp.
Aberto a toda pessoa interessada em debater educação, estudantes de pedagogia, licenciaturas, de pós-graduação e profissionais que trabalham no âmbito educacional.



         “Muita magia e muita sorte têm as crianças que conseguem ser crianças” é com este pensamento que Eduardo Galeano nos brinda para pensarmos a respeito de educação. Num mundo cada vez mais cheio da racionalidade de governar máquinas e coisas, a educação assume uma função bastante significativa. Afinal, o que é formação humana para (futuros e futuras) educadores ou educadoras? Formar para quê? 

          E ainda, tendo como base de reflexão de que a Semana da Educação é uma proposta voltada para professores e educadores, o tom da pergunta investigativa, que vai tateando o caminho – aquela que permite a experiência como experimentação, pois toma como premissa que há ainda algo diferente por encontrar – mais uma vez nos visita: Educador(a), que form[a]ção é essa?

          Esperamos que esta 6a Semana possa instigar o debate acerca da educação, colocando-nos perguntas instigantes e também encontros. Encontros, talvez não de respostas, mas de passagens, de outros pontos de vista e de percepção sobre a formação dos educadores e educadoras. Um poema de Chaplin conta-nos um pouco deste terreno das percepções, diante de grandes desafios como a educação.

O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenou a alma dos homens... 
levantou no mundo as muralhas do ódios... 
e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. 
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; 
nossa inteligência, empedernidos e cruéis. 
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. 
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
 Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

(O Último discurso, do filme O Grande Ditador)



Afinal, que formação e em que contexto?

               A formação de profissionais da educação no Brasil é parte importante na construção de um sistema de educação que atenda as diferentes demandas educacionais, reduzindo as desigualdades educativas marcadas por uma sociedade com imensas mazelas sociais, próprias do capitalismo. Estas desigualdades foram intensificadas pelas políticas neoliberais que penetraram nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos 90.

              Nesse sentido, com a finalidade de discutir a formação dos profissionais que atuam na educação brasileira, em suas múltiplas dimensões, desde a educação básica, pós-graduação, ensino superior público e privado aos diversos espaços não escolares – a Comissão Organizadora da Semana de Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas colocam o seguinte eixo temático: “Educador, que form(a)ção é essa?”

            Atualmente, a dinâmica formativa para os profissionais da educação tem sido marcada pela separação entre o saber intelectual e a prática profissional, aumentando o abismo entre professores e pesquisadores, entre trabalho e produção científica. Além disso, parte-se do princípio do aprimoramento do profissional da educação, conforme o nível educacional, no qual atua criando-se uma hierarquia do saber e resguardando às escolas privadas a responsabilidade pela formação do maior número de professores atuantes na educação básica, enquanto a pós-graduação, stricto sensu, e a pesquisa continuam sendo campo para uma minoria.

       A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação, em vigor desde 1997, provocou um aumento no número de professores que buscam cursos superiores de pedagogia e licenciatura, provocando a propagação de cursos de baixa qualidade e o uso intensivo das novas tecnologias efetivados na modalidade de educação à distância. Essas políticas têm seguido sistematicamente as orientações das agencias internacionais de financiamento.

       Os anos 2000 só acirraram essa lógica, de formar o máximo de profissionais em menos tempo, a fim de atender aos padrões avaliativos e índices que indicassem melhor desempenho e desenvolvimento da educação no país. Em nível federal foi criado o SAEB e o IDEB que, além de se propor a analisar o ensino nos municípios e estados, também direcionam as políticas formação de professores. Por esses processos avaliativos cria-se uma ligação direta ou indireta com a qualidade educativa e a formação de professores, gerando um fenômeno de competitividade e responsabilização do docente pelos resultados obtidos. Atreladas a isso, seguem também as políticas de pagamentos por resultados, conhecidas como “políticas de bônus”, isto é uma retribuição financeira diferenciada do salário base para o docente que alcançar bons resultados. Ademais, essas políticas reforçam a ideologia do individualismo e competição, concomitantemente reduzem as responsabilidades do Estado perante as políticas de formação docente, deslocando para os próprios professores a responsabilidade pela sua qualificação e retificando a lógica meritocrática, que não contribui em nada para superar as desigualdades na educação brasileira.

        A formação de professores e demais profissionais da educação, portanto, tem como objetivo hoje atender às novas demandas sociais e às exigências internacionais, associando educação básica ao mercado de trabalho, na qual o professor é fundamental para preparar a mão-de-obra necessária ao novo contexto mundial e instrumento indispensável para reproduzir as diferenças entre saberes de acordo com as classes que os brasileiros ocupam.

         Quanto à pós-graduação, acirram-se os problemas de falta de acesso à formação pública ou remunerada de qualidade, o que dá margem para a regulação de agências de fomento, como a CAPES. Esta, além de imprimir uma dinâmica de produtivismo e internacionalização aos pesquisadores e professores do ensino superior, traz atualmente como proposta de formação os Mestrados Profissionais. Essa modalidade formativa tem sido proposta como alternativa para qualificação rápida dos professores, “pouco onerosa” por ser financiada por bancos e empresas e com parte do seu programa realizado à distância. Tentando diferenciar o profissional para a pesquisa que se formará ainda pelo Mestrado Acadêmico, o Mestrado Profissional é mais um instrumento determinante da separação da teoria e da prática na formação dos educadores brasileiros.

     Observa-se ainda, em âmbito estadual, o recente ataque do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo com a Deliberação n.111/2012, alterando as atribuições dos professores da educação básica. Em âmbito municipal, conhece-se há algum tempo o oferecimento de diversos cursos de formação via consultorias, assessoramentos de empresas, parcerias com ONGs ou, ainda, pós-graduações em parceria com faculdades privadas em sua maioria lato sensu e EaD.

      Diante desse contexto, a 6a Semana da Educação pretende, portanto, aprofundar o debate em torno da seguinte questão: é possível garantir qualidade da educação em todos os seus níveis sendo que a maioria dos profissionais da educação têm se formado a distância, tendo como parâmetros de atuação a competitividade, a meritocracia e a falta de perspectiva para construção de uma carreira?


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